sexta-feira, 27 de maio de 2011

A Logística na Essência


Tem que gostar do que faz para ter sucesso
Por Marcos Aurélio da Costa*

Hoje presto consultoria no ramo de produtos asfálticos (um dos mais complexos e variáveis do mercado) e trago várias experiências no ambiente da logística, adquiridas em mais de uma década nas mais diversas ramificações, em que todas, levam a uma só raiz: Soluções logísticas. Contudo, é clara a minha necessidade de buscar me aperfeiçoar dentro desse mercado da logística em que são inúmeros os problemas e ainda poucas as alternativas de qualificação, mas extremamente promissor e detentor de um extenso pacote de soluções. A logística é uma fonte geradora de valores, sua falta é o desprezo pelos investimentos e seu erro é fonte de prejuízos.
Constantemente venho lendo artigos, acompanhando notícias e ouvindo definições sobre a logística. A Escola Técnica vem tentando inserir a essência da logística em todos os interessados, não só pelos seus profissionais como pela troca de experiências daqueles que atuam na área. Nessa essência, que intrinsecamente está a paixão pela área, devemos captar algo além do transporte, do modelo SCOR (Supply Chain Operations Reference) com “o produto certo, na hora certa”. Essa essência está além de um simples benchmarking ou de uma profissão em alta no mercado. Está além de uma cadeira na administração.
São comuns as divulgações de pesquisas estatísticas sobre as perspectivas de mercado para esta profissão. Dos 30% de profissionais qualificados que o mercado nacional necessita, estão em fase de qualificação apenas 5%. E estima-se que a taxa de crescimento anual para a chamada logística empresarial seja de 8 a 11%, já se assemelhando à construção civil, onde enquanto o Brasil forma 100 engenheiros, a China forma 10.000 (fonte: matérias exibidas no Jornal da Globo entre outubro e dezembro de 2010). E não se ressalta a proporcionalidade e, sim, a velocidade dos mercados. Isso é preocupante. Não que retire a verdade relacionada a esses estudos, pelo contrário, ratifico que a
gestão da cadeia logística com todos os seus segmentos (em especial a reversa, a interna e a gestão de stocks) é o caminho para profissionais que buscam também o sucesso financeiro. Mas em contrapartida, lança uma verdadeira corrida ao tesouro com pessoas buscando um espaço oferecido pelo mercado numa mão contrária às suas aptidões. Como aconteceu com a medicina: uma “arte” que tinha status por salvar vidas e se banalizou por “profissionais” antiéticos e outros que não suportam ver sangue, mas buscaram a área por pressão familiar ou pelo simples desejo de lucrar. Como uma das consequências, temos uma saúde em crise, desaparelhada e mal remunerada.
A logística também necessita de características nossas para o seu sucesso. Ela precisa primeiro que se realize em nós para que nos realizemos nela. Alguém que tenha medo do desconhecido, de novas ideias, amor à comodidade, avesso à organização e falta de pró-atividade dificilmente terá sucesso duradouro nessa arte encantadora. Pior, pode desestimular o processo de ascensão do que é necessário e crítico no nosso país que tem essa área como um bebê enquanto outros já tratam como adolescentes ou adultos. É bem sabido que sistemas têm características diferentes e uma só solução não se aplica a vários problemas. Assim é a logística: várias situações exigindo soluções novas, custos menores e um extremo jogo de cintura. Tenho exemplos de uma empresa que distribuía para os confins da região norte do país em que o motorista ficava impossibilitado de descer do caminhão no canteiro de obras devido ao risco do ataque de uma onça-pintada que calmamente lhe observava, ou quando descia para checar o recebimento com a nota fiscal e, ao voltar em minutos, os índios haviam depenado seu caminhão; outra só operava com frete aéreo, outra só com terrestre. Enfim, tudo que pode ser igual é a nossa forma de agir em diferentes situações, mas todas as situações reagem diferentes à nossa forma de agir.
Claro que não existe uma área em que sua política essencial seja compreendida por todos os componentes, mas a logística tem a necessidade de uma “taxa de compreensão” bem maior por ser uma área de extrema integração. Não pode ser como várias em que se pensa ter um gestor com mestrado e este irá “arrastar” o resto da equipe para o sucesso. Quem pensa assim está fadado ao esquecimento junto com a parcela de “empresários” que continuam contratando mãos e não cabeças com mãos. Nisso consiste o entrave da logística em nosso país: a falta de visão. Mas não é uma simples visão voltada ao crescimento, é um crescimento voltado à qualidade. Qualidade nos produtos, nos serviços e, consequentemente, qualidade de vida. Sempre ouço que quem atua na logística não vive, não tem hora pra sair do trabalho ou não tem tempo pra família… É verdade. Se você não tiver um projeto logístico com estruturas básicas e uma equipe que tenha captado a essência da logística, seja você gestor ou operador, terá sempre que correr atrás e ficar depois do horário para realizar retrabalhos.
A informação, seja do aspecto ambiental, religioso, político, social, local ou globalizada, é o que conduz à logística. A detenção do conhecimento possibilita soluções ágeis e certeiras dentro da diversidade de situações encontradas nos mais diversos processos logísticos. A busca por essa ferramenta primordial deve ser incessante, pois nela está a base para a estruturação e a chave para agregar valor a todos os processos.
Para aqueles que leram até aqui, compartilho o meu ponto de partida para a captação da logística em sua essência, que se dá, em grande parte, no decorrer da prática mas se inicia, talvez com um tempero romântico, que em nada se afeta pelo capitalismo em que experimentamos todos os dias, pelo contrário, se torna uma fonte maior de geração de capital para a empresa que detêm esses intra-empreendedores. Esse primeiro ponto é qualificar a logística como uma arte e, como toda, dotá-la de primícias que venham a valorizá-la, como a ética e o sentimento do dever cumprido com qualidade e lucidez; não vê-la como uma tarefa, mas como um processo que exige tempo (que é sempre curto) e doação. E não vermos apenas como um processo, mas como uma fonte de soluções contemporâneas e futuras. É vermos a logística como uma porta sempre aberta em que a visão do que tem do outro lado vai depender de suas ideias e da partilha dessas com os participantes desse projeto, pois é impossível atravessá-la sozinhos.

* Marcos Aurélio da Costa foi Coordenador de logística na COTECE SA; responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos, faz pesquisa mercadológica para grande empresa do ramo e contribui com o curso de Logística na Escola Técnica de Maracanaú-CE.

Texto enviado pelo professor Itamar Benkendorf do Curso Técnico em Logística do Colégio Elias Moreira

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